FARO (SÉ)


A POPULAÇÃO DA FREGUESIA DE FARO (SÉ):  1) Número de habitantes;  2) Variação do número de habitantes; 3) Taxas de crescimento da população; 4) Evolução da população comparada (1900-1960; 1960-2011); 5) Proporção face ao total da população do concelho: 6) Densidade demográfica; 7) Número de habitantes por grupo etário (2001 e 2011); 8) Percentagem de habitantes por grupo etário (2001 e 2011); 9) Diferenças por grupo etário (1878-2011); 10) Escolaridade e taxas de analfabetismo em 2011.


Obs.: Pela Lei n.o 33/97, de 12 de Julho, foi criada a freguesia de Montenegro com lugares desanexados das freguesias da Sé e de S. Pedro 



DESCRIÇÃO DE FARO EM 1874

Cidade episcopal e capital do distrito administrativo, Algarve, (único bispado e único distrito administrativo da província), na foz do rio de Vale Formoso, na costa do Oceano, 8 quilómetros a O. da antiga Ossonoba, com excelente porto, defendido por três fortalezas em bom estado, e pelo qual faz grande comércio. As fortalezas são: Fuzeta, S. Lourenço e Farrobilhas.

Fica 135 quilómetros ao O. de Beja, 30 ao O. de Tavira, 45 de Silves, 240 ao S. de Lisboa. Tem 2.150 fogos (8.600 almas) em duas freguesias (S. Pedro e Sé). No concelho 5.600 fogos, na comarca 9.250, no distrito administrativo 45.100.

Está em 36º 57' de latitude N. e 32' de longitude oriental.

Defronte de Faro está um grupo de ilhotes.

Situada em planície arenosa na margem oriental do dito rio, que, passando pela freguesia da Conceição, vem até onde chega a maré, encontrar-se com ela. Sobre ele está a ponte do Rio Seco. O rio é formado por um braço de mar, que se mete entre o areal chamado a Ilha, e a terra firme. O seu porto, apesar de ser de areia, e por tanto amovível, é um dos melhores do Algarve. Dá, na praia-mar, entrada pela Barra Grande, defronte de Olhão, a embarcações de mais de 200 toneladas. É defendida por o forte da Barra Grande. Mais a O., no fim da Ilha (a 6 quilómetros) está a Barreta, que dá entrada a barcos de 50 toneladas.

O rio, na praia-mar, tem 3 quilómetros de largo, e na baixa-mar fica reduzido a uns 65 metros. Toda a outra extensão do rio, até á cidade, é composta de ilhotas, cobertas de murraça.  É planta herbácea marinha, criada nos pântanos de água salgada.

Entre a murraça se criam bons mariscos, principalmente amêijoas.

Chama- se Praia do Ramalhete, ao sítio onde se lança a armação do atum. É desde a Barreta até S. Francisco, na extremidade da cidade, do lado do E., no comprimento de 3 quilómetros.

Ao E. da cidade há a marinha do Joinal.

O clima de Faro é quente, mas saudável.

Os árabes lhe chamavam Pharaon.

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As barras, que estão a uns 9 quilómetros da cidade, são estreitas e mudáveis, fazendo o rio (que é o maior do Algarve) muitas voltas e ilhotes de pouco fundo.

Aposição de Faro é agradável e a alvura e asseio de suas casas oferece uma bonita vista. Tem ruas espaçosas e em geral limpas e uma grande praça rectangular, cujo lado do sul deita para o rio, onde tem um cais e um forte. Nesta praça há mercado diário.

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Nos arredores da cidade há alguns sítios aprazíveis. O da ermida de Santo António do Alto, que é uma pequena elevação, próximo da cidade, oferece lindas e variadas perspectivas. O grande banco de areia a que chamam a Ilha, que juntamente com outras menores, divide a barra em dois canais (Barra Grande e Barreta) é um lugar de agradável passeio, pela sua pitoresca situação e pela vista da cidade.

O termo de Faro é fértil e bem cultivado.

Produz cereais, azeite, vinho, e grande abundância de figos, amêndoas e alfarrobas, constituindo estes três últimos géneros o ramo mais importante da sua agricultura, e do seu comércio de exportação. Também exporta muito peixe, principalmente atum.

Também exporta laranja, sumagre, assafroa (aqui chamada assaflor) cortiça, obras de esparto e de palma, etc, etc.

No mês de outubro de 1871 foi grande a exportação de figo, feita pela alfândega de Faro e suas delegações. O seu valor foi calculado em 22.:449S490 réis, sendo o figo destinado para Bruxelas, Dunquerque, Nantes, Waardinger, Amsterdão, Antuérpia, Londres e Roterdão.

É também importantíssima a exportação de minério pela alfândega desta cidade. Para se fazer uma ideia aproximada do valor deste ramo de indústria, note-se que, só em abril de 1873 se exportou minério de cobre no valor de 22 contos e 600 mil réis.

Há aqui feira a 16 de julho e 20 de outubro.

E em Estoi (onde foi Ossonoba) a 10 de julho.

Texto retirado da obra “Portugal Antigo e Moderno”, de Cunha Leal (1874, Vol. 3, Pág. 140)


OSSONOBA

Antes de tratarmos da actual cidade de Faro, precisamos dizer o que consta da velha Ossonoba. A fundação de Ossonoba, como a de todas as povoações cuja origem se perde na noite dos tempos, está envolvida em fábulas mais ou menos verosímeis; e vários escritores lhe dão fundadores e idades diferentes.

Escolhamos o que nos parecer menos fabuloso.

Dizem vários historiadores que esta cidade foi fundada por uma colónia de gregos, pelos anos 2640 do mundo, ou 1364 antes de Jesus Cristo, dando-he o nome de Ossonoba.

(Era no sítio onde hoje está a povoação de Estoi)

Dizem alguns que o seu primeiro nome foi Pharo, por causa de um farol que os seus fundadores aqui edificaram, para guia dos navegantes. É certo que pharo, phano e phanal é de origem grega; mas não consta que a antiga Ossonoba tivesse jamais este nome. Em todo o tempo da dominação romana e ainda depois da invasão dos árabes, sempre se chamou Ossonoba.

Autores menos crendeiros, atribuem a fundação de Ossonoba aos curetes, antigos povos da Lusitânia, uns 500 anos antes de Jesus Cristo. Se os curetes não foram os seus fundadores, pelo menos a reedificaram e ampliaram; e, ainda que não pude saber a significação da palavra Ossonoba, é certo que ela me parece mais lusitana do que grega.

No tempo dos romanos era Ossonoba cidade famosa, e já então reputada muito antiga, capital da Céltica, que é, pouco mais ou menos, o actual Algarve.

Se dermos crédito a escritores julgados verídicos, foi Ossonoba sede episcopal desde o primeiro século do cristianismo. 

Era, pois, esta cidade uma povoação de muita] importância, quando se deu o fatal cataclismo do príncipio do século VIII. Mas Ossonoba não se rendeu aos invasores, senão depois de uma heroica resistência, pelo que os mouros conquistando-a, a desmantelaram.

Seus moradores, parte foram cativos para a Africa, e os que puderam fugir,

Se foram acoutar nas serras de Monchique e Caldeirão.

Passados alguns anos e sujeita a maior parte da península aos mouros, começaram alguns pescadores a edificar várias casas em um sítio azado para as suas pescarias, 8 quilómetros a O. da destruída Ossonoba, de cujas ruínas foram aproveitando os materiais.

Foi aumentando a povoação, e muitas famílias fugidas de Ossonoba, se vieram aqui estabelecer pouco a pouco, e assim se deu princípio á povoação de Santa Maria, que foi o primeiro nome que teve a actual cidade de Faro.

Aqui temos outra vez dúvidas sobre a etimologia da palavra Faro. Dizem uns que, tendo- se com o andar dos tempos desenvolvido a navegação e o comércio nestas paragens, se edificou aqui (outros dizem que nos ilhotes fronteiros) um farol, para governo dos navegantes, e que á povoação se principiou a chamar Vila de Faro (Farol.)

Dizem, porém, outros (e eu acho isto mais natural) que não querendo os mouros estar pelo nome que os cristãos impuseram á povoação (Santa Maria), lhe deram o nome de Faraon, que significa povoação dos cavaleiros; porque “farás” significa o cavalo e “fores” o cavaleiro.

(Já disse que alguns sustentam que o nome de Faro já se dava á velha Ossonoba, e sendo assim, o que é, pelo menos, muito duvidoso, não é palavra árabe, mas grega, como já disse).

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Tendo os mauritanos invadido a Céltica, pelos anos 260 de Jesus Cristo, o general romano Lucio Quintilio Galion, veio com uma legião em socorro dos lusitanos algarvios, e secundado por eles expulsou os invasores, que fugiram derrotados para a África.

Em Ossonoba se gravou um magnifico padrão com uma inscrição laudatória, dedicado a Galion.

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Ossonoba, capital do Algarve, e seu governo, estavam sujeitos ao convento jurídico pacense (de Beja) mas documentos irrefragáveis provam ter Ossonoba um governo democrático, composto de uma junta governativa (ou coisa que valia o mesmo) e seis membros (ou tribunal sevirato) como república distinta e populosa.

Os outros pontos do Algarve eram governados por duumviratos ou quadrumviratos; ou por delegados de César, investidos do poder consular.

Uma lápide que existe na casa da câmara de Faro prova esta verdade, pela inscrição que contém, cuja copia é a seguinte:

«Marco Cornélio Eridano e Gaio Junio Recepto, por causa da honra de sevirato, dedicaram esta lápide á sua custa.»

Esta lápide veio de Ossonoba e esteve em diferentes sítios de Faro, até que, em 1846, estava embebida na muralha do arco da Porta da Vila, próximo á casa da guarda. A câmara, a pedido do sr. B. J. de Senna Freitas, a colocou no frontispício dos paços do concelho, no 1º de junho desse ano de 1846.

Tal era a honra de ser do sevirato de Ossonoba, que os eleitos mandaram gravar esta lapide para perpetuar esta honraria.

Texto retirado da obra “Portugal Antigo e Moderno”, de Cunha Leal (1874, Vol. 3, Pág. 140)