FREGUESIA DE ALJEZUR


A POPULAÇÃO DA FREGUESIA DE ALJEZUR:  1) Número de habitantes;  2) Variação do número de habitantes; 3) Taxas de crescimento da população; 4) Evolução da população comparada (1900-1960; 1960-2011); 5) Proporção face ao total da população do concelho: 6) Densidade demográfica; 7) Número de habitantes por grupo etário (2001 e 2011); 8) Percentagem de habitantes por grupo etário (2001 e 2011); 9) Diferenças por grupo etário (1878-2011); 10) Escolaridade e taxas de analfabetismo em 2011.


Obs.: Com lugares desanexados da freguesia de Aljezur foi criada a freguesia de Rogil, pela Lei nº 51-D/93, de  09 de Julho.


DESCRIÇÃO DA FREGUESIA DE ALJEZUR EM  1873

Vila, Algarve, comarca de Silves, 90 quilómetros de Faro, 24 a O. N. O. da Serra de Monchique, 35 a N. E. do Cabo de S. Vicente, 3 da costa do mar e 190 ao S. de Lisboa, 700 fogos, 2.800 almas.

O concelho é composto da freguesia de Aljezur e sua anexa, Odeceixe, e  ambas têm 700 fogos.

Orago Nossa Senhora de AIva.

É no bispado do Algarve, distrito administrativo de Faro.

Sendo suprimido este concelho, em 1855, ficou desde então Aljezur pertencendo ao concelho de Lagos.

Chamava-se antigamente Algazur. Também se escreve (e é como se devia escrever, por ser mais etimológico) Algezur. É a palavra árabe algezur, que significa arcos, arcada ou arcaria. Vem de “gesron”, o arco. Vem a ser, povoação da arcada.

Confina este concelho ao N. (pelo rio Odeceixe) com o Alentejo.

O seu terreno é fértil, mas doentio por causa das águas estagnadas pelas margens dos rios.

É situada na costa oriental de um escarpado rochedo, que corre de N. a S. com a serra de Monchique.

Tinha no tempo dos árabes um forte Castelo, cujas ruínas existem na parte mais elevada do cerro, ao sul. É de figura octógona, com duas torres, uma ao N. outra ao S., uma formosa cisterna ainda muito bem conservada e quartéis desmantelados.

Foi fundada esta vila pelos árabes, no princípio do século X, e lhe deram o nome que ainda tem.

O célebre mestre de Santiago, D. Paio Peres Correia, a tomou aos mouros, na madrugada do dia 24 de junho de 1242. Outros dizem, e parece-me mais provável, que foi naquele dia, mas no ano de 1246. Foi por ser tomada de madrugada, que a padroeira da Vila e da freguesia ficou sendo Nossa Senhora de Alva.

Por ser tomada aos mouros pelo mestre de Santiago, ficaram seus sucessores com o padroado da igreja e apresentavam os priores, que o bispo confirmava, recebendo este a terça parte dos dízimos, por composição com o prior.

D. Afonso III a deu à ordem de Santiago, logo que foi resgatada; D. Dinis fez escambo dela e outras terras, pela vila de Almada (com a ordem) em 4 de dezembro de 1298.

Tinha uma companhia de ordenanças com seu capitão, oficiais e porta-bandeira. Acabou em 1834.

D. Dinis lhe deu foral, em Estremoz, a 12 de novembro de 1280, com muitos privilégios, sendo um deles, que os cavaleiros desta vila não teriam a saga do exército. (Isto é, não iriam na rectaguarda.)

Está registado no livro terceiro de D. Dinis, na Torre do Tombo, folhas 2 e 5 verso.

D. Manuel lhe deu novo foral, em Lisboa, a 20 de agosto de 1504. Nele manda que a vila tenha o título de honrada.

Eram alcaides-mores do castelo desta vila os condes de Vila-Verde, depois passou a alcaidaria para os  Marqueses de Angeja.

Na igreja matriz estão duas cabeças santas, que eram de dois lavradores. O povo daqui acredita que elas livram das mordeduras de cães danados e de doenças no gado.

Tem Misericórdia fundada no princípio do século XVI, com 150$000 réis de rendimento.

O seu território é (como já disse) muito fértil em todos os géneros agrícolas, e os seus melões são óptimos.

Os dízimos da comenda (de Santiago) renderam em 1832—630$000 réis.

Passa pela vila a ribeira chamada Petiscos, que nasce na encosta de O. da serra de Espinhaço de Cão, e tomando a direcção do N. recebe a do Pomarinho, a E., próximo da vila, já engrossada com a do Morão. Do N. se lhe junta a da Cabeça do Calvo. Tem uma ponte arruinada ao S., e regando as margens se mete no Oceano; mas a sua barra está muito entulhada de areias. As marés chegam a 2 quilómetros da vila.

Também passa perto a ribeira de Vale de Noras.

Parece que foi porto de mar em tempos remotos, porque, além da tradição, no tombo das terras do concelho, feito em 1684, se lê ter ele ali «um lezirão de terra, sito no combro do rio, ou esteiro, onde antigamente era o desembarcadouro, etc. etc.

O terremoto do 1º' de novembro de 1755 arruinou todas as casas da vila, arrasando as altas, o castelo, e da matriz só ficou de pé a tribuna da capela-mor. O rio, que então ia a meia maré, secou de repente, sumindo-se a água por grandes bocas que abriu no leito, sendo vomitada imediatamente para os lados, alagando tudo.

A terra abriu bocas e grandes fendas, lançando em muitos sítios uma areia branca, fina, que nunca por ali se vira. Em outras partes apareceram carvões miúdos, areia fina parda, e terra a que chamam aqui piçarra.

Não morreu ninguém.

O bispo D. Francisco Gomes de Avelar (um dos melhores prelados que tem tido o Algarve) vendo que os pântanos eram a causa da insalubridade da vila, quis remediar isto, mudando-a mais para E., para um sítio mais lavado dos ventos, e ali mandou fazer, á sua custa, uma bela igreja e algumas casas para residência do pároco, ajudador e sacristão; a morte, porém, o não deixou continuar tão boa obra. Os moradores tinham-lhe prometido mudar para o novo sítio as suas casas, mas faltaram á sua palavra, e a igreja nova e as casas contíguas estão abandonadas e em ruínas.

Na herdade da Corte-Cabreira, 6 quilómetros da vila, há uma pedreira de ardósia, explorada de remotíssimos tempos, pois no sítio das Ferrarias, fronteiro e próximo da vila, e no da Arregata, a 3 quilómetros, se encontram muitas sepulturas, formadas de seis lápides da dita ardósia, em forma de caixão, mas sem ossos; indício de que eram dos povos que queimavam os cadáveres e só guardavam as cinzas. 

Aparecem, porém, outras sepultaras cavadas em pedra (que ali chamam caliço) que têm ossos. Estas supõe-se que sejam árabes.

Desta pedreira se tiram lajes de todas as grossuras. São de várias cores: cinzentas (que são as mais brandas), azuis claras e azul-ferrete (estas últimas são as mais duras).

Na costa, em um sítio elevado, sobranceiro ao mar, se veem as ruínas de uma grande povoação, cujas ruas ainda se distinguem, e bem assim uma grossa parede, que sustenta as águas de uma grande nascente de óptima água.

A 5 quilómetros da vila está o casal do Vidigal, que outrora foi grande povoação. No título de uma capela do sr. Furtado, dos Casais, se lê - em uma terra ali, que descreve - «parte com a rua da Espora Dourada, do Vidigal.

Ali chegava a maré, por um esteiro, que hoje é o pequeno ribeiro do Areeiro.

Em uma cheia ficaram descobertos alguns ossos de baleia, um dos quais ainda em 1840 sustentava (e não sei se ainda lá está) a chaminé do casal.

Perto se veem as ruínas de edifícios e terras queimadas, que indicam ser de trabalhos metalúrgicos antigos. Ainda a este sítio se dá o nome de Mina de cobre.

Cinco quilómetros ao S. da foz do rio está a fortaleza arruinada de Arrifana de Aljezur, e os restos de cabanas e de um grande armazém pertencentes aos pescadores de atuns. Houve aqui uma grande armação de pescar estes peixes.

D. Manuel, por alvará de 20 de maio de 1516, doou a dízima velha dos atuns que morressem na armação de Arrifana de Aljezur, aos condes de Vila Nova de Portimão, o que foi confirmado por D. João III, a 7 de julho de 1522.

O terremoto de 1755 arruinou a fortaleza, ficando só a bateria.

Já aqui não há armação de pescar atuns.

Há neste concelho minas de ferro e de manganés.

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Excertos da obra “Portugal Antigo e Moderno”, de Pinho Leal (1873, vol.1. pág. 134)